ELEIÇÕES 2022 - Parte 1 - coluna junto e misturado

 



        Falar de eleições, ainda mais as desse ano, causa calafrios nas pessoas. Não sou um cientista político, mas vou escrever algumas impressões que ficaram deste pleito tão acirrado.

        O primeiro aspecto que fica é o da participação popular. Nunca candidatos à presidência obtiveram tantos votos. Foram recordes. Quem venceu conseguiu a maior votação da história das eleições no Brasil. Um índice de participação extraordinário o que fortalece o exercício da democracia e mostra a importância do momento histórico.

        Esta eleição não é uma que se possa afirmar que um ganhou e outro perdeu. Mas que projetos civilizatórios estavam em disputa. Um que defendeu a Democracia e o fortalecimento de suas instituições. E outro que transformou a disputa eleitoral entre uma luta de inimigos e não de adversários. Situação que não contribui para o progresso e nem para a prosperidade de uma nação.

        Bolsonaro, que foi derrotado pelas urnas, o foi por vários fatores. Sua pauta moral, exaustivamente usada na eleição que o elegeu, não servia para este momento. Era a hora de ser julgado pelo que fez. E aí várias questões o atingiram. Foi o presidente que menos trabalhou. Levantamento feito pelo site Congresso em Foco, identificou uma média de 4,8 horas por dia de trabalho. Uma média insignificante pelo compromisso que o cargo exige. Ficou sobre ele a má gestão no período da pandemia. Com um saldo assustador de 670 mil mortos por Covid. O atraso na compra das vacinas e o negacionismo foram fundamentais para atingir suas intenções eleitorais. Seu discurso contra as minorias e contra as mulheres. Bom, discursos que você já ouviu.

        Mas quem realmente saiu derrotado das urnas. Primeiro um modelo liberal desastroso e sem rumo, comandado por Paulo Guedes. Um modelo avesso a políticas sociais, contra os pobres e contra os serviços públicos. Com danos irreparáveis ao patrimônio público.

        Segundo setores da Igreja Católica e de muitas Igrejas evangélicas. Saem com a credibilidade arranhada. Com danos imensos, pela divisão interna, pela falta de tolerância com os que pensam diferente e um ataque sistemático, baseado em muita desinformação. Facilmente possível de ser desmentida pelas próprias redes sociais. Famílias divididas. Uma danosa conduta, que destruiu o essencial de uma religião, a NEUTRALIDADE. Instituições como estas, não é tolerável que se tornem um partido político. É prejudicial à sociedade, pois não passa mais a segurança de uma opinião livre de intencionalidade. Perdem poder de referência para a sociedade.

        Terceiro setor derrotado são as Forças Armadas. Aqui faço um parênteses. Sou com muito orgulho filho de militar. Meu pai serviu com dedicação e me ensinou muitas coisas. Me criei tendo que passar, quando os coturnos eram ainda de couro, pasta, depois passar a escova e lustrar para ficar impecável o coturno. Também lustrar a fivela da cinta. Como se diz, precisava ser um espelho. Convivi em minha infância e juventude com este mundo. Já na fase adulta conversamos sobre o papel das forças armadas. Guardo o seguinte aprendizado dele. Lugar de milico é no quartel. Ele era contra inclusive que soldados, cabos, sargentos e tenentes pudessem votar. Eu o questionava, em nome da democracia, o porquê de tal posição. Afirmava ele “para não virar massa de interesses políticos partidários”. Traduzindo: Estar comprometido com sua verdadeira missão. A defesa do país. Política para os políticos. É mais uma instituição que sai manchada na sua credibilidade, por uma atuação identificada com interesses político-eleitorais, e que deve explicações à sociedade que a mantém com seus impostos, sobre as denúncias de superfaturamento e desvios de recursos públicos.

        O quarto setor derrotado, são os partidos que apostaram na Neutralidade. Era uma eleição entre um modelo ditatorial que buscava se instalar no país e a defesa da democracia. Estes sofreram duras respostas nas eleições. Os candidatos que supostamente defenderam não ser alinhados a nenhum dos dois lados, para formar uma terceira via para a sociedade, não conseguiram sucesso e nem grande representatividade de votos. A sociedade havia, com bastante antecedência, definido quem deveriam ser os candidatos que a representavam. Tanto que estas lideranças precisaram rapidamente se reposicionar no segundo turno. Podemos ver que já há movimentações para fusões entre partidos, como consequência dos novos arranjos políticos. Segundo a CNN Brasil, metade dos partidos que estarão no congresso nacional já possuem diálogo sobre fusões. O caso mais marcante é do PP, de Arthur Lira e Ciro Nogueira, nomes fortes no apoio a Bolsonaro que discutem se fundir ao União Brasil. Muitos desses partidos abastecidos pelo escândalo do Orçamento Secreto. Bilhões jogados sem fiscalização para uso político partidário. Como denúncias de corrupção no Ministério da Educação.

        Por último, vejo como derrotado o projeto de poder que se construiu em torno da família Bolsonaro. É muito importante entender, que não existe bolsonarismo. As práticas e ações políticas são de extrema-direita, caracterizada por ações fascistas, abastecidas pela desinformação. O que é muito preocupante para um país com tantas diferenças sociais como o nosso. O Brasil não é uma ilha. Esse fenômeno tem sido percebido em várias regiões do mundo. Esse embate, entre a defesa da democracia e a extrema-direita, se percebeu na Argentina, tanto que o ódio levou a um atentado contra a vice-presidente da Argentina. Foi motivo de embate político, no Peru, Equador, Chile e Colômbia. Uma das características do fascismo é crer que pode agir sem respeitar as leis que regem as sociedades modernas, principalmente suas constituições. É achar que pode se aproximar do autoritarismo e que nunca irá responder por isso.

        Para aqueles que creem que agora Bolsonaro irá responder por possíveis crimes cometidos e poderá vir a ser preso, tenho a seguinte opinião. Primeiro seus processos irão para primeira instância. O que poderá lhe dar inúmeras possibilidades de recurso. Segundo, ele e seu partido estão tentando, e isso naturalmente irá diminuir, manter um patrimônio político com os votos que alcançou. Manter-se como uma espécie de representante das oposições. Sabe-se que no decorrer dos quatro anos, ninguém consegue manter coeso uma unidade assim, em torno de um único nome, pois novas lideranças surgem tendo aspirações eleitorais. Lideranças com mandatos, seja como Senador, Deputado ou Governador.

        Mas acho que a família Bolsonaro não sairá ilesa. Acredito que devido ao número de Fake News, comandadas por Carlos Bolsonaro, que é vereador, e não tem imunidade parlamentar, poderá saber rapidamente o que é a cadeia. Seus irmãos, sem a proteção do pai como presidente, terão que responder pelas denúncias de rachadinha em seus gabinetes, aumento patrimonial que não condiz com sua remuneração e tráfico de influência.

        A democracia brasileira mostrou-se forte. Mas precisa de melhorias. Precisa urgentemente de mais participação de todos os setores da sociedade. Precisa ser escutada. Precisa efetivamente controlar e fiscalizar as políticas públicas que são implementadas. Mas deu nesta eleição um passo importante para o seu fortalecimento e amadurecimento.

 

 

Algumas fontes:    https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/bolsonaro-trabalhou-em-media-48-horas-por-dia/

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/apos-1o-turno-pelo-menos-metade-dos-partidos-do-congresso-planejam-fusoes/

https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/06/5013190-ha-uma-falta-de-transparencia-nas-fas.html

 

                                                                                 Cléo Roberto Matick Malheiros

                                                       Professor Estadual

 

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