Renda de quem tem curso superior cai 10,1% no RS em seis anos
Baixa no salário médio de profissionais graduados é
reflexo da crise. Melhora passa por aquecimento da economia
Os gaúchos que
conseguiram concluir o Ensino Superior não
ficaram imunes à crise econômica. Em intervalo de seis
anos, a renda de quem terminou a graduação caiu 10,1% no Rio Grande do Sul,
apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No
segundo trimestre de 2019, o rendimento médio real do grupo
foi estimado em R$ 5.271. Em igual período de 2013, quando a economia gaúcha
ainda não sofria com a recessão, estava em R$ 5.865. Ou seja, no intervalo, os
salários perderam R$ 594 em média.
Os dados integram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua
Trimestral, cuja última edição foi divulgada em agosto. A partir daí, GaúchaZH buscou
na base do IBGE estatísticas do mesmo período de anos anteriores.
No
Brasil, a renda média de profissionais com graduação também
caiu em nível similar à redução gaúcha. Entre o segundo trimestre de 2013 e
igual período de 2019, a baixa chegou a 9,6%, de R$ 5.576 para R$ 5.039.
– A queda
no rendimento é reflexo da precarização do mercado de trabalho na crise.
Houve casos de pessoas com Ensino Superior que perderam seus
empregos e migraram para funções com remuneração menor. Outras não conseguiram manter a mesma jornada de trabalho,
o que causou baixa no rendimento – avalia o coordenador da Pnad Contínua no
Estado, Walter Paulo de Sousa Rodrigues.
A
população gaúcha com Ensino Superior saltou 37,3% entre o
segundo trimestre de 2013 e igual período de 2019, para 1,4 milhão, indica o
IBGE. Segundo economistas, com mais candidatos na disputa por vagas e redução
nas oportunidades por causa da crise, encontrar salários robustos tornou-se desafiador.
– O
aumento no número de trabalhadores com Ensino Superior não é acompanhado,
necessariamente, pela criação de empregos que exigem graduação completa. Na
crise, o mercado passa a não pagar salários tão diferenciados porque consegue
preencher as vagas abertas com mais facilidade – pontua a economista Izete
Pengo Bagolin, professora da Escola de Negócios da PUCRS.
A
psicóloga Débora Santos da Silva, 35 anos, sentiu o quadro de dificuldades no
Estado. Em maio de 2018, dois meses após sua formatura, sublocou espaço numa
clínica de saúde em Porto Alegre. O que não esperava era o
recuo na clientela com o passar dos meses.
Diante da
situação, a psicóloga rumou para novo local de atendimento neste ano. Ao lado
de colegas, passou a dividir os custos de consultório na Capital. Para complementar a renda, Débora
também presta serviços em uma estética. Seu desejo é trabalhar como psicóloga
na área hospitalar, mas, diante das restrições do mercado, cogita atuar em
outros setores, como recursos humanos:
– Ainda é
difícil depender só dos atendimentos. Sou mãe solteira. Tem dias em que há
pacientes. Em outros, não.
À espera da reação da economia
Mesmo com
a queda nos salários e as dificuldades vividas por profissionais como Débora, o
Estado tem a maior renda média da Região Sul para trabalhadores com Ensino Superior completo,
indica o IBGE. No ranking nacional, os gaúchos estão na quarta posição.
Economista-chefe
da CDL Porto Alegre, Oscar Frank frisa que a geração de empregos com salários
mais elevados tende a aumentar quando a economia engatar retomada mais consistente.
Em parte, a reação gaúcha depende das condições do cenário nacional.
– O Rio
Grande do Sul não é uma ilha. A tendência é de aceleração da economia nacional a
partir do primeiro trimestre de 2020, ainda nada exuberante. Para crescer mais,
o país precisa avançar na agenda de reformas, além de promover abertura
comercial e confirmar programa de concessões – afirma Frank.
Para
Izete, diante da penúria das finanças públicas, o Estado
pode atuar como uma espécie de facilitador, com o objetivo de melhorar o
ambiente de negócios. A reação do mercado de trabalho e do quadro econômico
como um todo é necessária para evitar a fuga de cérebros do Rio Grande do Sul,
diz a professora da PUCRS.
– As
dificuldades podem ter preço alto, com a perda de pessoas de alta qualificação
para outros locais – ressalta Izete.
Para se preparar
·
A busca por cursos de pós-graduação e
especialização tende a beneficiar quem tem Ensino Superior completo e está à
procura de novo emprego, diz a coordenadora de recursos humanos (RH) da Metta
Capital Humano, Luciana Adegas.
·
Segundo a especialista, o domínio da língua inglesa
é pré-requisito na disputa por vagas de trabalho com salários maiores.
Familiaridade com outros idiomas pode representar diferencial durante o
processo de seleção.
·
Para quem deseja trocar de área de atuação,
planejamento é necessário, frisa Luciana. Entender características e
habilidades pessoais tende a ajudar candidatos na hora de fixar novos objetivos
profissionais.
GAUCHA ZH 27/10/2019
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