O SUCESSO DE "CANETA AZUL" É BULLYNG
O vídeo do maranhense Manoel Gomes cantando sua composição viralizou não
por sentimentos positivos de empatia e admiração.
O bullying vem sendo um esquisito
caminho para o estrelato.

Na
verdade, as pessoas estavam rindo dele, zoando dele, numa brutalidade de memes
e figurinhas. Ele tornou-se uma corrente do deboche, já que sofre pela perda da
caneta azul com uma aguda e sincera sofrência amorosa.
Fica, então,
famoso por ser ridicularizado em rede nacional. Assim como alguém pode ser
conhecido por um tombo, um fora, um barraco, uma gafe numa vídeo
cassetada.
É mais uma série de nossa fábrica incessante de gargalhadas coringas
das ambições e do modo de vida alheio.
Por mais que tenha alcançado a projeção, não foi do jeito certo, a
natureza de sua exposição é fruto da violência e da agressão, da ironia e do
sarcasmo, do menosprezo à sua simplicidade, à sua cultura, e uma crítica nada
velada à produção tosca e caseira do vídeo.
Transformaram a credulidade do músico em humor. Porque ele, diferente
do tratamento recebido nas redes sociais, está interpretando de modo sério o
seu sentimento, não fez para ninguém rir. Não é stand-up, não é uma
comédia. Ele canta do fundo de seu coração o extravio de um objeto
insignificante de preço, mas repleto de utilidade para a sua vida. Descreveu
uma cena literal de sua experiência, sem nenhuma transcendência, quando a sua
BIC com o nome dentro sumiu num dia de aula.
Manoel que já tem
um disco e mais de 21 mil composições escritas, só saiu do seu anonimato e veio
à tona pela detratação coletiva. Artistas célebres repetiram o seu refrão para
arrancar risadas, não suspiros. É o mesmo que um trapezista ser confundido com o
palhaço do circo.
Qual o motivo de repassarem a sua música? Porque é linda? Não,
infelizmente, para mostrar o quanto ele é estranho, o quanto é ridículo se
preocupar com uma caneta, o quanto ele é desafinado.
Sua canção repete as mesmas estruturas repetitivas e nonsenses de hits
como Florentina, de Tiririca. O
comediante virou deputado federal - não sei onde vai parar Manoel.
O que me preocupa é onde vamos parar com a nossa indiferença digital,
neste completo desprezo ao sofrimento do outro. Os meios justificam o fim no
país, numa prova de falta de educação e de respeito em massa.
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