MULHERES PRECISAM SER FIRMES CONTRA OS RETROCESSOS
Esqueça, apenas por um minuto, que você é um homem/mulher
branco(a), de classe média, lendo seu jornal preferido.
Tente, com afinco, se
colocar nessa situação: com o congelamento dos gastos em saúde e educação por
20 anos, aprovado no governo Temer, você é uma mulher negra (como 40 milhões de
brasileiras são), grávida de um segundo filho. Pena há dias para conseguir que
sua primeira criança seja atendida numa unidade de saúde. No seu trabalho em
ambiente insalubre, afinal grávidas podem trabalhar nesses locais conforme
reforma trabalhista, olhares tortos devido aos atrasos e faltas. Medo de ser
colocada para rua assim que o bebe nascer? Não precisa. Você terá que sair
antes disso. Não conseguiu vaga na creche, vai deixar as crianças com quem?
Independentemente de todos os poréns que essa mini-história pode ter, uma coisa
é certa: os grandes problemas das mulheres brasileiras têm relação intrínseca
com os grandes dilemas que o Brasil vive hoje.
Quando o Estado falta é a mulher que cuida da criança,
sozinha, via de regra. Quando o Estado é pequeno, deixa de aportar recursos em
políticas públicas que são estruturantes para as mulheres. O governo Temer foi
uma afronta à nossa existência digna, não só em relação aos direitos
reprodutivos e sexuais, mas quando alijou as mulheres do desenvolvimento
econômico e quando congelou o investimento em políticas públicas. Mas
precisamos respirar e resistir.
Temos que estar fortes para a batalha. O atual presidente do
Brasil é aquele cara que defendeu a redução da licença-maternidade, é contra a
Lei Maria da Penha e a lei do feminicídio. É aquele cara que votou contra os
direitos para as domésticas, que acha que mulher tem que ganhar menos porque
engravida. Aquele que votou a favor de reforma que permite que grávidas e
lactantes trabalhem em locais insalubres, que votou a favor do congelamento em
investimentos na educação e na saúde. O que esperar de um presidente em que, no
decorrer das 81 páginas de seu plano de governo, havia apenas uma menção às
mulheres, em um título de um gráfico?
O debate sobre um projeto de desenvolvimento do Brasil e de
saídas para a crise é um debate que precisa e está sendo feito pelas mulheres.
Se enfrentamos um inverno, saberemos juntas fazer a primavera chegar.
Por Manuela D'Ávila. ex-deputada estadual e federal,
diretora executiva do instituto E Se Fosse Você?
GAUCHA ZH 08/03/2019
Comentários