Conheça o pastor que disseminou a soja no RS

 

Albert, Helena e Siegfried, o primeiro filho nascido no BrasilReprodução / Acervo Família Priebe


Norte-americano Albert Lehenbauer morou no interior de Santa Rosa

A soja ocupa mais de seis milhões de hectares no Rio Grande do Sul. Em menos de um século, de um desconhecido grão, passou a ser o principal produto de exportação. Um pastor luterano teve protagonismo na introdução da cultura. Albert Ernst Heinrich Lehenbauer convenceu colonos a plantar na região de Santa Rosa, no Noroeste gaúcho.

Lehenbauer nasceu em 13 de fevereiro de 1891 em West Ely, no Missouri, nos Estados Unidos. Depois de formado em teologia, queria trabalhar na China. O estouro da I Guerra Mundial, em 1914, forçou a mudança de planos. A Igreja Evangélica Luterana do Brasil o trouxe para o Rio Grande do Sul, onde já estavam dois de seus irmãos, também pastores.

Em 1915, Albert chegou à região das linhas 15 de Novembro e 23 de Julho, no distrito de Santa Rosa, mais tarde emancipado de Santo Ângelo. Casou com Helena Priebe três anos depois, com quem teve cinco filhos e três filhas.

O pastor e outros líderes locais organizaram, na segunda metade da década de 1920, a União Colonial da Linha 23 de Julho. Durante as noites, reuniam os colonos para discutir seus problemas. Lehenbauer lia para os agricultores livros, jornais e revistas. Incentivou a criação de carpas, novas pastagens e flores para produção de mel. Das viagens a Porto Alegre, voltava com novidades. Oriunda da Ásia, a soja já estava no Brasil, mas era pouco conhecida.

Walter Lehenbauer, neto do pastor, ouviu muitas vezes a versão contada pelo pai Siegfried e pela avó Helena. Pela história compartilhada na família Lehenbauer, Albert esteve nos Estados Unidos em 1923, onde nasceu o segundo filho. Quando voltou ao Brasil, trouxe sementes de soja em uma garrafa na bagagem.



A história do pastor e dos pioneiros da soja é pesquisada por Anete Rosane Krebs Guimarães, professora responsável pelo Museu Municipal e Arquivo Histórico de Santa Rosa. Ela tem outra versão. Conta que Lehenbauer leu sobre o grão no livro Cultura dos Feijões, de Paulo Vieira Souto, publicado em 1918 no Rio de Janeiro. Convenceu quatro colonos a testarem o plantio e comprou dois quilos de sementes na Casa Comercial Schönvald, na capital gaúcha. Como combinado, Gustavo Bessel, Emanuel Brachmann, Bruno Schwarz e João Müller entregaram ao pastor parte da colheita. Ele queria levar adiante as sementes, distribuídas a outros agricultores. Lehenbauer e os demais líderes da União Colonial experimentaram diferentes qualidades da semente.


Anete foi vizinha de Gustavo Bessel, um dos pioneiros. Lembra que, quando menina, via o movimento de curiosos pela história chegando à propriedade rural. No início dos anos 1970, o pai dela, Siegfrid Krebs gravou entrevista, em alemão, com Bessel. O registro foi importante para entender a introdução da soja na região. Por muito tempo, se difundiu o ano de 1923 como início do plantio no interior de Santa Rosa, mas a pesquisadora acredita que o ano mais provável foi 1930 ou 1931.

Os colonos começaram a procurar utilidade para a nova produção. No início, um objetivo da cultura era melhorar o solo. Na alimentação humana, não teve sucesso. Talvez não soubessem preparar. Na alimentação suína, serviu como vermífugo e depois virou alimento importante.

Em 1938, Lehenbauer aceitou convite para dirigir seminário na região de Buenos Aires, na Argentina. Em retorno à Santa Rosa para visita anos depois, viu o crescimento da região e se surpreendeu com a quantidade de soja plantada. O pastor morreu em 29 de abril de 1955, vítima de AVC dentro de um trem, quando retornava de conferência na província de Entre Rios. Sem saber que o grão seria tão importante, o pastor ajudou Santa Rosa a ganhar o título de Berço Nacional da Soja.

 

 

Por GZH 04/03/2022


LEANDRO STAUDT

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