Foi um erro privatizar a CEEE?
É inegável que o serviço piorou - ainda mais - desde que o
Grupo Equatorial assumiu o braço de distribuição da companhia
O
serviço pavoroso de fornecimento de energia elétrica, que ganhou
contornos dramáticos depois do temporal de domingo, com clientes sem luz há
quatro dias em Porto
Alegre e na Região Metropolitana, abriu uma controversa discussão
política sobre a privatização da CEEE.
Não restam dúvidas de que tudo piorou – e muito – desde que o
Grupo Equatorial, em julho do ano passado, assumiu
o braço de distribuição da companhia. A gestão da concessionária é um
desastre absoluto, com capacidade de resposta praticamente nula e um
atendimento ao consumidor que irritaria Dalai Lama.
E o pesadelo, vale lembrar, não vem de hoje. Clientes que
estão de mudança, por exemplo, têm enfrentado semanas de via-crúcis – com
atendentes desinformados e orientações desencontradas – para ter a luz ligada
na casa nova. Um problema que, antes da privatização, era solucionado em 24
horas.
Nos últimos dias, o mais revoltante talvez seja a falta de
perspectiva. Em entrevistas à imprensa, representantes da CEEE sequer
oferecem uma ideia de quando a situação vai se normalizar. Moradores
atingidos pelo apagão, antes acostumados com mensagens de texto informando o
horário de retorno da luz, agora recebem o seguinte: "Nosso sistema está
em manutenção".
A privatização, portanto, foi um erro? Difícil responder à
pergunta sem analisar como era a CEEE nos tempos de estatal. Alguém talvez diga
que o serviço era excelente – afinal, a situação hoje é muito pior –, mas não é
verdade: já era péssimo. A dívida milionária da companhia, aliás, incluía uma
montanha de multas por descumprimento dos padrões mínimos de qualidade. Incluía
também anos e anos de ICMS não pago, ou seja, dinheiro que o Estado deixava de
arrecadar.
Foi com a CEEE estatal que os gaúchos aprenderam a normalizar
um absurdo: quando chove, vai faltar luz. Isso não existe em nenhum lugar do
planeta onde o serviço de fornecimento de energia funciona – e não, não precisa
enterrar a fiação para evitar apagões; basta fazer uma gestão eficiente da infraestrutura
que se tem. Mas, para isso, são necessários investimentos. E a CEEE estatal,
como se sabe, não tinha dinheiro para isso.
Quando comprou a companhia, o Grupo Equatorial assinou
contrato se comprometendo a investir em planejamento, melhorias na
rede, qualidade do serviço, atendimento etc. Mas, até agora, nada. Os órgãos
fiscalizadores, além de multar a empresa pela evidente incompetência dos
últimos meses, terão de verificar quanto tempo levará para os resultados
aparecerem. Seis meses? Cinco anos?
É inadmissível que se submeta uma comunidade a um prazo tão
longo de serviços mal prestados. Ou a Equatorial se emenda de uma vez, ou o
governo do Estado deve rescindir o contrato e fazer um novo edital. Erro,
mesmo, é as coisas seguirem assim.
Por PAULO GERMANO GZH 09/03/22
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