Varejo da construção fecha trimestre com aumento de 30% em relação ao pré-COVID impulsionado principalmente por auxílio emergencial
Estudo da Juntos Somos Mais mostra que apesar de auxílio ser responsável por 75% do crescimento, a expectativa do setor é positiva para 2021
No início da pandemia, o setor da construção civil como
todos os demais setores sofreu um forte impacto no volume de vendas. Porém, o
varejo da construção civil demonstrou forte resiliência e adaptação às novas
demandas durante a pandemia. Ao longo dos últimos cinco anos, o setor aprendeu
a conviver com o decréscimo do PIB e a constante crise no segmento tornando-o
preparado e criativo para enfrentar novas dificuldades.
O indicador Juntos Somos Mais, que apura as vendas de
indústrias para o varejo da construção, indicou que no terceiro trimestre de
2020, o setor teve uma performance aproximadamente 30% melhor do que no
período pré-COVID. A parcial de outubro indica continuidade no
comparativo, com crescimento também de 30%.
Com um ecossistema que reúne mais de 80 mil varejistas, 500
mil profissionais da construção civil em todo Brasil e mais de 20 empresas de
serviços e indústrias ligadas à construção civil, a Juntos Somos Mais vem acompanhando o desempenho
do setor ao longo dos meses.
No início da pandemia, em abril, a expectativa em relação ao
desempenho de vendas para 2020 era muito ruim. Pesquisa realizada no dia 17
daquele mês com representantes das indústrias indicou que apenas 11% dos
respondentes acreditavam que o ano de 2020 teria um faturamento superior ao ano
de 2019, outros 11% que 2020 seria similar à 2019, enquanto 22% que a queda
seria de até 10% e 56% entendiam que a queda seria entre 10% e 30%. A pesquisa
mais recente, realizada em outubro de 2020, aponta que 89% acreditam
que este ano será de crescimento no faturamento versus o ano anterior e 11%
que o faturamento de 2020 será similar ao ano anterior.
A alta na demanda e a mudança de perspectivas implicaram em
desafios de produção para a indústria. Em outubro de 2020, 66% das indústrias
indicaram ter aumentado a produção, com 44% operando no limite produtivo. Além
de restrições de capacidade produtiva, também há dificuldades em se conseguir
matérias primas como embalagens, cobre e outras. As lojas de material de
construção têm então indicado falta de produtos e o preço tem subido como
atesta o CUB Médio Brasil, indicador de custos da construção, que registrou em
agosto de 2020 um aumento de 1,24% em relação a julho do mesmo ano,
configurando o maior aumento percentual de um mês em relação ao anterior desde
junho de 2016.
Há vários fatores contribuindo para o desempenho do setor. O
primeiro deles está ligado a uma mudança de comportamento do consumidor que,
estando mais tempo em casa, tem valorizado mais a sua casa e classificado
"pequenas reformas" como um "item importante, não supérfluo".
A taxa de juros nos menores patamares da história conjugada com um déficit
habitacional que cresceu de 2012 a 2017 (último dado disponível) também têm
motivado a demanda por obras e reformas.
Entretanto, a partir de análise de dados internos e também
indicadores como a Pesquisa Mensal de Comércio e a Pesquisa Mensal Industrial
do IBGE, dados do SNIC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), ABECIP
(Entidades de Crédito Imobiliário) e ABRAINC (Incorporadoras Imobiliárias),
a área de Inteligência da Juntos Somos Mais concluiu que o auxílio
emergencial foi responsável por 75% do crescimento. "O setor deve
continuar se beneficiando do aporte gerado pelo auxílio emergencial. Estimamos
que por volta de 17,3% do faturamento do setor entre maio e agosto de 2020
tenha vindo desta fonte", comenta Ivan Ormenesse, responsável pela área na
Juntos Somos Mais.
Consequentemente, o fim do auxílio emergencial traz
incertezas sobre cenários de crescimento no próximo ano. Ainda assim, 89%
das indústrias pesquisadas esperam aumento de faturamento em 2021, sendo que
33% esperam crescimento acima de 10%. A falta de material, entretanto,
não deve se repetir na mesma escala atual, já que a expectativa das indústrias
pesquisadas é que 78% conseguirão atender a demanda.
"A construção civil é uma indústria que depende das
expectativas futuras para projetar seu crescimento. Nos últimos anos o setor
sofreu com queda de PIB e aos poucos aprendeu a viver na crise", explica
Antonio Serrano, CEO da Juntos Somos Mais, que ainda destaca: "O
desempenho nos últimos meses foi surpreendente, porém o ano foi atípico e
devemos estar preparados para diversos cenários em 2021. O pequeno varejista da
construção fez rapidamente sua lição de casa, se adaptando a vendas remotas,
mas precisa avançar de forma mais estruturante em gestão e digitalização do seu
comércio".
Comentários