Reajustaço de quase 35% na gasolina e 28% no diesel em 50 dias vai disseminar inflação
PRESSÃO NO BOLSO
Aumentos drásticos vão pesar nos preços de todas as
mercadorias transportadas no Brasil, na tarifa de ônibus urbano e no orçamento
da classe média
Os novos reajustes nas refinarias anunciados na manhã desta
quinta-feira (18) pela Petrobras, de 10,2% na gasolina e de 14,7% no
diesel representam acúmulo de quase 35% e 28%, respectivamente,
nos primeiros 50 dias de 2021.
O tamanho do aumento, o quarto sucessivo do ano, impressiona
porque não há registro histórico recente de um repasse desse porte: é um
reajustaço, o equivalente a um tarifaço. A coluna pesquisou e só encontrou algo
parecido em outubro de 2015, com aumento de 8,87% da gasolina, e no longínquo
outubro de 2009, com salto de 13,2% no diesel.
Explicação, há: é resultado da combinação da perspectiva de
retomada dos transportes, conflitos no Oriente Médio, eventos climáticos
extremos no Hemisfério Norte e uma pesada estrutura tributária.
Mas será esta a única forma de tratar a questão em uma
economia debilitada como a brasileira? Não se trata de sugerir intervenção, que
já mostrou efeitos negativos, mas aproveitar o momento delicado para encontrar
uma fórmula que concilie o respeito às flutuações de mercado com um mecanismo
que suavize choques.
Convenhamos: alta de 10% a 15% do dia para a noite é quase um
choque, ainda mais no momento em que a inflação mostra os dentes: a segunda
prévia do IGP-M, anunciada nesta quinta-feira (18) acumula 28,64% em 12 meses.
– Vai haver espalhamento maior das pressões inflacionárias –
adverte André Braz, coordenador dos IGPs da Fundação Getulio Vargas sobre o
efeito da alta do diesel e da gasolina.
Nos IGPs, o que mais pesa é o diesel, por estar na base de
transporte de todas as mercadorias. Na inflação "oficial", medida
pelo IPCA, a vilã será a gasolina, combustível de deslocamento da classe média.
Para Décio Oddone, ex-diretor-geral da Agência Nacional do
Petróleo (ANP), os brasileiros precisam se habituar a essas variações:
– Qualquer mudança de tributação deve ser implantada quando
tudo está tranquilo. O problema é que pensamos em alternativas só em momentos
drásticos, como este. Ninguém gosta, mas é um fato da vida, com o qual temos de
aprender a conviver, ou o Brasil nunca será uma economia de mercado.
Mais cedo, a coluna abordou
o caso da Dinamarca, que não controla nem congela preços, mas adotou
uma estratégia fiscal de médio prazo para lidar com as variações do valor de
referência do barril de petróleo. É para pensar, não é?
GAUCHAZH
18/02/2021
Comentários