Cremers entra na Justiça contra abertura de curso de Medicina pela Unijuí
Conselho alega que a região já tem número suficiente de médicos e que há explosão de novos profissionais, puxada por busca de lucro por universidades
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul
(Cremers) entrou na última terça-feira (8) na
Justiça para suspender o primeiro vestibular para o curso de Medicina na
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). A
instituição de ensino se preparava para aplicar a prova em 24 de fevereiro e
selecionar 30 alunos.
O argumento da classe médica é de que Ijuí, no Noroeste, já
tem um excesso de médicos por conta da presença de cursos de Medicina nas
universidades de Passo Fundo (UPF), Federal de Santa Maria (UFSM) e
Universidade de Erechim (URI). Também é citada a proliferação de graduações no
país e o aumento exponencial no número de formados, que praticamente dobrou de
2013 para cá, alcançando 30 mil novos profissionais entrando no mercado a cada
ano.
"Esse quadro seria decorrente em especial da atuação de
grupos econômicos interessados na exploração do ramo de faculdades de Medicina
em universidades privadas, em razão do lucro gerado pelo alto custo da
mensalidade cobrada dos alunos", diz o Cremers na ação.
O presidente do conselho, Eduardo Trindade, afirma que o
problema de saúde no Estado não é a quantidade de médico, mas as condições de
trabalho dos profissionais. Ele diz que, enquanto a Organização Mundial da
Saúde (OMS) preconiza que o ideal para uma região é ter um médico a cada 1 mil
habitantes, a região de Ijuí tem um profissional a cada 350 habitantes.
— Faltam investimentos em saúde, claramente. Só que temos
que melhorar a qualidade da assistência. Não é falta de médico, é falta de
estrutura. Não é a pura e simples existência de uma faculdade de Medicina que
garantirá uma qualidade assistencial à comunidade — afirma.
O conselho também reclama de não ter sido consultado na
criação do curso para acompanhar a criação do currículo, o impacto econômico
sobre verbas federais (divididas entre hospitais universitários).
A Unijuí tem até quarta-feira (16) para se manifestar.
Após ser contatada, a Unijuí informou que
tomará as providências jurídicas cabíveis e que seguirá com o cronograma
normal, com aulas previstas para março. Em nota, afirmou que a ação do Cremers
soa "estranha, considerando que o município de Ijuí foi habilitado em
processo de Edital em 2013 e a Unijuí em 2018. O edital que habilitou o
município de Ijuí envolveu três outras cidades do Rio Grande do Sul, as quais
não foram questionadas pelo Cremers e (que) hoje oferecem o curso de Medicina".
A universidade discorda da alegação do Cremers de que não
faltam médicos na região de Ijuí: "Tal argumento não procede, pois
desconhece todo o processo do edital e da região de abrangência do curso, que
mostra com clareza a necessidade de abertura do curso nessa região".
Destaca, ainda, o "impacto que o curso de Medicina terá no desenvolvimento
da qualidade da saúde e da formação médica na região noroeste do Estado,
considerando que a instituição possui uma trajetória de mais de 35 anos de
formação na área da saúde, bem como possui cursos de residência e o mestrado em
Atenção Integral à Saúde".
O vaivém da Medicina na Unijuí
Desde a década de 1990, a criação do curso de Medicina na
Unijuí era uma demanda da região Noroeste do Estado e, sobretudo, da prefeitura
de Ijuí, uma vez que graduações em Medicina tendem a melhorar o atendimento em
saúde pública pela constituição de hospitais-escola.
Em 1992, a Unijuí chegou a aplicar um vestibular para
Medicina, mas o processo seletivo foi anulado pela Justiça, após pedido do
Conselho Federal de Medicina (CFM).
Em 2013, o MEC abriu edital para escolher municípios
brasileiros que receberiam novos cursos e, em 2014, Ijuí foi contemplada. No
mesmo ano, outro edital foi aberto, desta vez para a escolha da universidade que
sediaria o curso. O governo federal, à época, escolheu o Grupo Estácio, do Rio
de Janeiro. A instituição carioca, no entanto, voltou atrás na decisão, o que
motivou o MEC a criar outro edital em 2017. A Unijuí reforçou o interesse, foi
escolhida pelo governo federal e agora oferecerá a graduação à comunidade.
GAUCHA ZH 12/01/2019
GAUCHA ZH 12/01/2019
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