Sabe o que é um coletor de esporos? Ele pode salvar sua soja da ferrugem
Ferramenta ajuda a identificar previamente a chegada de uma
das principais doenças da cultura, a ferrugem asiática. Confira as dicas e como
obter a tecnologia!
Há oito anos o Brasil não registrava tantos casos de
ferrugem asiática como na temporada atual. Já são 135 ocorrências confirmadas
até o momento, segundo o Consórcio Antiferrugem. Especialistas culpam o clima e
o plantio antecipado por tamanho avanço. Mas será que dá para prever a doença e
antecipar as aplicações de fungicidas? A resposta é sim, com um coletor de
esporos. Uma ferramenta tão simples que o próprio agricultor pode fazer.
O equipamento nada mais é que um cano PVC, com cerca de 100
milímetros de diâmetro, cortado na parte traseira formando uma aba, que com o
vento, garante que a abertura frontal, que capta os esporos (em uma lâmina),
fique voltada para o vento. Na imagem em destaque dá para entender bem.
O produtor rural Laercio Dalla Vecchia, de Mangueirinha
(PR), descobriu o equipamento recentemente e hoje não entende como viveu tantos
anos sem usá-lo. “O coletor é importante pois mostra quando a doença está
chegando e com qual intensidade. Pode ser a diferença entre prevenir e
remediar”, afirma.
Ele conheceu a tecnologia depois de prestar serviço para um
amigo, no município vizinho de Chupinzinho, e resolveu entrar em contato com a
Emater-PR para colocar um em sua propriedade. “Tão logo voltei, já entrei em
contato com a Emater, fiz a solicitação para obter o coletor e eles mandaram.
Para obter o coletor não tem custo nenhum, o técnico da Emater veio até minha
área me ajudar. O único gasto é a análise das lâminas”, conta Dalla Vecchia.
Segundo o extensionista rural e coordenador regional de
projetos da Emater-PR de Campo Mourão, Sandro Albrecht, atualmente a entidade
não oferece o aparelho, mas indica como o produtor pode construí-lo. “É muito
fácil fazer um coletor, se o agricultor tiver interesse, basta entrar em
contato conosco que ensinamos. A lâmina que capta os esporos também pode ser
obtida em qualquer laboratório de análises e é barata”, afirma.
Albrecht conta que o coletor já é usado há muito tempo no
estado. Idealizado pelo engenheiro Agrônomo Dr. Seiji Igarashi, foi adaptado há
cinco anos pelo Instituto Emater para o trabalho de extensão rural junto aos
agricultores familiares do Paraná. “Somente neste ano a tecnologia realmente
deslanchou. Agora está em fase de amadurecimento, com treinamento de mais
laboratórios parceiros e técnicos para fazer a análise das lâminas”, conta.
Em novembro, por exemplo, o Instituto Emater e o curso de
Agronomia da Faculdade Integrada de Campo Mourão, anunciaram uma parceria para
capacitação técnica para o Manejo Integrado de Doenças da Soja (MIP), mais
especificamente o uso de coletores de esporos para monitoramento da Ferrugem
Asiática da soja.
Influenciador
Dalla Vecchia não é apenas um produtor rural interessado em
melhorar suas lavouras, ele também é um influenciador. Ou seja, gosta de
adquirir conhecimento, testar e mostrar para outros produtores os resultados
obtidos.
Foi assim, inclusive, que ele fez com que esta tecnologia
antiga voltasse a ganhar notoriedade entre os agricultores. Em um dos muitos
vídeos que grava em sua página no Facebook (Laércio, o agricultor), com dicas
para outros produtores, ele mostrou o coletor de esporos e o sucesso foi
instantâneo, com milhares de visualizações.
“Nenhuma safra é igual a outra, no ano passado os produtores
atrasaram as primeiras aplicações de fungicidas e tiveram uma produção boa. Mas
nesse ano está diferente. Dos cinco anos que o coletor chegou ao estado, esse
foi o primeiro que registrou a doença mais cedo. Em novembro encontrei 10
esporos, que é a mesma quantidade de anos anteriores em meados de 15 de
janeiro”, explica o agricultor.
Ele conta que assim que o alerta da chegada antecipada dos
esporos foi dado na região, muitos produtores saíram aplicando fungicidas. “Com
isso, em dezembro, o número de esporos encontrados caiu para 2 apenas. Quando
achei os 10 esporos sai aplicando fungicida e mesmo encontrando esporos depois,
nenhum caso da doença apareceu nas minhas áreas. Apesar de no município ter
aparecido um caso”, diz Dalla Vecchia.
Paraná avançado
Ao todo, o estado já tem mais de 208 coletores instalados,
em 15 municípios do estado e o número segue aumentando. Albrecht explica que
existe um processo para identificar onde os esporos aparecem, com um site de
dispersão bem atualizado.
“Este ano, o protocolo da pesquisa definiu que cada um dos
coletores seria analisado semanalmente nas primeiras fases da planta, até que
os esporos fossem encontrados. Se nada aparecesse, quando as linhas fechassem,
duas análises seriam realizadas por semana. A ideia era localizar e alertar os
produtores o quanto antes”, afirma o expansionista.
Outros estados
Por enquanto a tecnologia é usada com mais precisão no
Paraná, ou pelo menos é o único estado que possui um mapa indicando a
localização dos esporos. Entretanto, o coordenador da Emater diz que outros
estados já pensam em reproduzir. “Qualquer produtor pode construir seu coletor,
basta apenas encontrar um fitopatologista ou laboratório de confiança para
analisar as lâminas. O Rio Grande do Sul já pensa em adotar o coletor e ele
ajudaria bastante no combate a ferrugem”, diz Albrecht.
Por fim, o produtor
de Mangueirinha voltou a comentar sobre a importância de adotar medidas de
proteção das lavouras e tentar evitar problemas maiores.
POR PROJETO SOJA BRASIL 04/01/2019
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