Governo Leite estuda pagar servidores em datas fixas no mês
Proposta em discussão prevê três depósitos mensais, conforme o ingresso de ICMS, mas ainda há dúvidas sobre a viabilidade da operação
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Eduardo Leite (à direita, no primeiro plano) quer garantir
maior previsibilidade ao funcionalismo
Fernando Gomes / Agencia RBS
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Para atenuar as incertezas dos servidores com salários
atrasados desde 2016, o governador Eduardo Leite (PSDB) estuda estabelecer
datas fixas para o pagamento dos contracheques do Executivo — pelo menos
enquanto não for possível voltar a quitar a folha em dia. A ideia inicial,
ainda em fase de discussão e passível de alterações, é estabelecer três
momentos no mês para fazer os depósitos, associados ao ingresso de ICMS em
caixa.
O primeiro repasse ocorreria sempre entre os dias 9 e 12,
quando entram recursos da substituição tributária, da primeira parcela do ICMS
de combustíveis, telecomunicações e energia e da indústria e comércio. A
segunda etapa se daria após o ingresso de valores do Simples Nacional, no dia
20 de cada mês. Por fim, o terceira e última remessa seria concluído entre os
dias 23 e 27, período em que o Estado recebe o restante do ICMS mensal, seu
principal imposto (veja o quadro abaixo).
Até os dias 10, 20 e 30 de cada mês, também entram verbas
federais do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), mas em menor volume.
Embora factível, a medida ainda suscita dúvidas no Palácio
Piratini.
— Existe o risco de furar (a previsão) por um evento
externo. O assunto está amadurecendo — relata uma fonte.
São comuns, por exemplo, sequestros determinados pela
Justiça para assegurar a compra de medicamentos e a quitação de Requisições de
Pequenos Valor (RPVs) — dívidas inferiores a 10 salários mínimos que o Estado
tem com pessoas e empresas. Dependendo da quantidade de dinheiro envolvida
(impossível de prever), o cumprimento do calendário a ser apresentado aos
servidores poderia ficar ameaçado. Nesse caso, o efeito seria contrário ao
pretendido, desencadeando ainda mais dúvidas e angústia no quadro funcional.
Interlocutores dizem que Leite está a par dos riscos, mas
tem a convicção de que é preciso "dar o mínimo de previsibilidade" ao
funcionalismo — algo que repetiu durante a campanha em diferentes ocasiões. No
momento, os servidores não sabem com precisão em que dia do mês receberão seus
vencimentos. Por lei, deveriam receber no último dia útil do mês corrente, mas
isso não acontece, de forma ininterrupta, desde fevereiro de 2016.
No início dos parcelamentos, o governo de José Ivo Sartori
(MDB) chegou a anunciar as datas previstas para os depósitos, assim como os
valores. Como muitas vezes conseguiu pagar antes, passou a ser acusado de
"terrorismo" pelos críticos, que levantaram dúvidas sobre a real
gravidade da crise. A partir dali, optou-se por não adiantar mais as
informações, priorizando sempre os menores salários.
Agora, para reduzir a chance de problemas, uma possibilidade
em avaliação no Piratini é divulgar as datas de pagamento, sem pré-determinar
as faixas salariais a serem quitadas — o que daria margem de manobra, em caso
de imprevisto.
O plano em estudo
O governo Leite avalia a possibilidade de estabelecer três
datas fixas para o pagamento dos servidores.
A intenção é dar previsibilidade e amenizar as angústias de
quem recebe salários atrasados desde 2016, sem saber quando o dinheiro entrará
na conta.
Os depósitos seriam atrelados aos três principais blocos de
ingresso de ICMS em caixa. A proposta ainda é passível de alteração.
Como funcionaria
Se a ideia vingar, os pagamentos seriam divididos por faixas
salariais, como já acontece hoje, dos menores contracheques aos maiores,
divididos nos três blocos abaixo, conforme entram os recursos do ICMS nos
cofres do Estado.
Bloco 1 — Primeiro pagamento
Dia 9 — Substituição tributária
Dia 10 — Primeira parcela do ICMS dos combustíveis,
telecomunicações e energia elétrica
Dia 12 — ICMS da indústria e do comércio
Bloco 2 — Segundo pagamento
Dia 20 — Simples Nacional
Bloco 3 — Último pagamento
Dia 23 — Substituição tributária
Dia 25 — Segunda parcela do ICMS dos combustíveis
Dia 27 — Segunda parcela do ICMS de energia e
telecomunicações
HISTÓRICO DOS ATRASOS
Em 2015, os contracheques foram parcelados duas vezes, em
julho e agosto.
Em 2016, foram 11 meses (de fevereiro a dezembro) e, em
2017, mais 12 meses.
Em setembro de 2017, o governo decidiu mudar a forma de
pagamento. Até então, depositava parcelas iguais para todos os servidores. De
lá para cá, paga primeiro os vencimentos mais baixos e, à medida que ingressam
recursos em caixa, quita os demais contracheques.
Em 2018, os parcelamentos se repetiram de janeiro a
dezembro.
Em janeiro de 2019, será finalizado o pagamento da folha de
dezembro de 2018. A tendência é de que os atrasos continuem, embora o
governador Eduardo Leite (PSDB) tenha prometido voltar a pagar em dia até o fim
do ano.
GAUCHA ZH 04/01/2019
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