Maioria do STF vota a favor da criminalização da homofobia; julgamento segue no dia 5 de junho
Votação sobre o tema estava suspensa desde 21 de fevereiro; dos 11 ministros seis já deram parecer favorável
O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou
nesta quinta-feira (23) o julgamento sobre a criminalização ou não de condutas
discriminatórias contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais,
pessoas trans e intersex (LGBT+). A sessão foi encerrada com seis votos
favoráveis a enquadrar atos de homofobia e transfobia na lei dos crimes de
racismo até que o Congresso aprove lei específica - não houve parecer contrário
até o momento. A votação, que estava suspensa desde 21 de fevereiro,
continua no dia 5 de junho.
Já havia no STF quatro votos pela criminalização da homofobia,
proferidos em fevereiro pelos ministros Celso de Mello, Edson Fachin, Alexandre
de Moraes e Luís Roberto Barroso. Nesta quinta, votaram os ministros Rosa Weber
e Luiz Fux, formando a maioria do plenário. Mas ainda não há decisão da
questão, pois pode haver reformulação de alguns dos magistrados até o encerramento
do julgamento.
No começo da sessão, ministros avaliaram um ofício
do Senado Federal, que falava do projeto de lei que avançou na última semana na Casa para
criminalizar a homofobia. A maioria dos ministros se manifestou para manter o
julgamento, inclusive os dois relatores dos processos, Celso de Mello e Edson
Fachin.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
aprovou na quarta-feira (22), um dia antes do julgamento no STF, a proposta de
incluir na Lei Antirracismo a discriminação por orientação sexual ou de
identidade de gênero.
O ministro do STF Celso de Mello defendeu por
manter o julgamento, pois mesmo com a apresentação de projetos de lei neste
sentido “continua subsistindo a situação de mora legislativa” no caso. O
ministro acrescentou que "inexiste qualquer obstáculo que impeça o
prosseguimento neste Plenário da Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão".
O ministro Alexandre de Moraes afirma que
foram 30 anos em que "absolutamente todas as minorias e todos os grupos
que a constituição entendeu que tivesse uma proteção especial foram acolhidas
pelo Congresso Nacional, menos um. A proteção desse grupo específico foi a
única que restou ignorada".
Os ministros Marco Aurélio e Dias Tofolli votaram
pela suspensão do julgamento.
A votação retomou por volta das 17h30 com a
ministra Rosa Weber, que assim como os quatro magistrados que se manifestaram
em fevereiro, deu um voto favorável à criminalização. A ministra disse que
"há temas que a palavra se impõe e não o silêncio, esse é um
deles”.
— O direito à autodeterminação sexual decorre
diretamente do princípio da dignidade da pessoa humana— afirmou Rosa.
No encerramento, acrescentou que a decisão "em
absoluto implica ou traz qualquer efeito na liberdade de expressão
religiosa".
O ministro Luiz Fux deu o segundo e último
voto da sessão desta quinta-feira. Fux defendeu que "se impõe a
judicialização dessa questão e a palavra final do Poder Judiciário".
— Acolher o pedido da comunidade LGBT é cumprir o
compromisso da Justiça, que é dar a cada um o que é seu.
O magistrado acrescentou ainda que cabe ao legislativo
criar "o tipo específico para esses fatos que aniquilam a noção de
humanidade".
A votação, que encerrou com seis votos favoráveis
de um total de 11 ministros, deve ser retomada na sessão do dia 5 de
junho.
Entenda o caso
O processo estava suspenso temporariamente em 21 de fevereiro, quando
chegou ao quarto dia de discussões. Ele trata sobre a criminalização ou não de
condutas discriminatórias contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis,
transexuais, pessoas trans e intersex (LGBT+). Ainda não há data prevista para
uma definição, mas os ministros terão de decidir o que fazer em relação ao
tema, que não está especificamente tipificado na legislação penal brasileira.
Não caberá ao STF definir se a homofobia (preconceito contra gays,
lésbicas e bissexuais) e a transfobia (preconceito contra travestis
e transexuais) devem ser tratadas como crime. O que as duas ações sendo
julgadas pedem é que a Corte decida se há omissão do Congresso Nacional por não
editar leis sobre casos de agressões contra homossexuais. Há projetos de lei
prevendo sanções à conduta homofóbica tramitando no Legislativo desde, pelo
menos, 2001.
GAUCHA ZH 23/05/2019
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