Programa Mais Médicos: necessidade ou demagogia?

O
mais recente resultado dessa discussão está na resolução do governo de Cuba em
romper o acordo vigente do Programa Mais Médicos e retirar do país em torno de
8 mil e 500 médicos.
Antes
de formar uma opinião sobre o tema é necessário conhecê-lo, principalmente em
tempos onde nossa principal fonte de informação são as redes sociais.
Desde
2010, o governo brasileiro vem estudando forma de fixar profissionais no
interior do país. Inicialmente o Programa de Valorização da Atenção Básica
(PROVAB) era exclusivo para brasileiros e incluía médicos, dentistas e
enfermeiros. Apesar de alcançar resultados interessantes na fixação de
dentistas e enfermeiros, foi insuficiente para atingir o mesmo objetivo com os
médicos. Nesse sentido, era necessário ousar e buscar experiências
internacionais. Por um lado, o governo incentivou o aumento de vagas para
formação de médicos nas universidades brasileiras e por outro abriu editais
para contratação de médicos estrangeiros.
Em
todos os editais as vagas eram prioritariamente para médicos brasileiros e
somente as vagas remanescentes eram destinadas aos estrangeiros. Vieram médicos
da Europa, América do Sul e Cuba.
Cuba
faz cooperação com 66 países incluindo africanos, asiáticos e europeus. Para
alguns casos os médicos vão sem custo para os países em outros casos são
realizadas trocas com o governo cubano. A força médica cubana virou forma de
receita para o governo cubano que sofre embargo econômico.
Os
médicos cubanos são funcionários de uma estatal de Cuba. Quando a estatal abre
edital para contratação de médicos para missões fora do país ela expõe em
contrato as condições salariais. Isso também significa que qualquer médico de
Cuba em nosso território é responsabilidade dessa estatal, a ela são encaminhados
os casos de lesão corporal, por invalidez , por seguro, por assistência a
família em caso de morte, entre outros.
O
custo de todo o profissional do programa é o mesmo para o governo brasileiro.
Como os médicos cubanos são funcionários de uma estatal e estão em missão
especial no Brasil o valor repassado diretamente a eles é realizado por essa
empresa. Atualmente, esse valor está em torno de R$ 3 mil livres de qualquer
imposto. Os médicos cubanos também recebem moradia e alimentação das prefeituras.
Provavelmente esse valor seja superior a grande maioria dos professores
estaduais do Rio Grande do Sul, que além de não receberem o complemento de
aluguel de casa e alimentação, recebem seu salário parcelado.
Aqui faço, uma reflexão:
se médicos cubanos são escravos, o que dizer dos professores estaduais? O que
dizer dos trabalhadores que recebem até 1 (um) salário mínimo?
Todo
o médico do programa Mais Médicos recebe uma orientação com visita mensal de
médicos brasileiros. Sim, eles são tutorados e foram obrigados a fazer uma
série de cursos de atualizações e especializações no Brasil. Os médicos
cubanos, além do tutor, são monitorados pela Organização Pan Americana de Saúde
(OPAS).
A
questão da revalidação de diplomas no Brasil é um tema importante e utilizado
como argumento central para justificar mudanças no programa. Os Mais Médicos
são de caráter transitório e substitutivo, ou seja, não é permanente. O
planejamento é que com a abertura de mais vagas para formação de médicos nas
universidades brasileiras em poucos anos seja desnecessária a contratação de
médicos estrangeiros. Além disso, pode-se especular que o revalida tem caráter
de regulação de mercado e não de avaliação de mérito.
Ademais,
não se pode negar a importância desse programa. Atualmente, mais de 1500
municípios brasileiros são atendidos exclusivamente por cubanos, mais de 63
milhões de brasileiros passaram a ter acesso a assistência médica, estudos
recentes demonstram que após o programa as internações hospitalares por
condições sensíveis à atenção básica, ou melhor, por problemas que podem ser
resolvidos numa unidade básica de saúde caíram 10%. Mais saúde e menos custos.
Ao
estudar o programa e analisar seus resultados podemos observar que o impacto é
altamente positivo para as populações mais vulneráveis. Provavelmente, se você
é um usuário SUS você já foi beneficiado direta ou indiretamente. A decisão de
abrir um cenário de combate baseado em argumentos superficiais é populista,
ideológica e demagoga. Objetiva agraciar uma parte importante do eleitorado
brasileiro as custas da saúde dos mais necessitados.
Na
tentativa de amenizar o impacto da saída dos médicos cubanos do programa, o
governo brasileiro lançou um novo edital. Até o presente momento apenas 3.500
médicos com diploma revalidado no Brasil assumiram os postos, sendo que desses,
uma parte considerável já são médicos do programa que se fizeram nova inscrição
na esperança de trocar de cidade. Ou seja, ainda há um déficit de pelo menos 5.000 médicos. Isso
significa dizer que 20 milhões de pessoas estão sem assistência médica.
Considerando que os agravos em saúde estão concentrados nas populações mais
carentes, o leitor já pode imaginar onde vai estourar esse problema.
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