Preços de alimentos sobem até 89,16% no ano e afetam mais o bolso de quem ganha menos
Disparada está relacionada a questões como mudança de consumo
e dólar em nível elevado
Durante a crise econômica provocada pelo coronavírus,
os preços
de alimentos ficaram mais salgados para os consumidores na Grande
Porto Alegre. Embora preocupe diferentes camadas da população, o avanço nos
valores atinge com maior força quem ganha salários menores. É que,
proporcionalmente, pessoas com renda inferior tendem a comprometer parcela mais
elevada do orçamento com a compra de produtos básicos.
No acumulado de 2020, até novembro, os preços do grupo
alimentação e bebidas subiram 11,48%, em média, na região metropolitana de
Porto Alegre, sinaliza o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). O dado consta na pesquisa do Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial
do país. De janeiro a novembro, a alta nos alimentos superou, com folga, o
IPCA, que avançou 2,34% na região.
O óleo de soja é o alimento com maior disparada no preço:
89,16%. Ou seja, quase dobrou de valor durante o ano. Na sequência, aparece o
arroz, com alta de 61,83%.
— A inflação de alimentos afeta mais a população de baixa
renda, já que o peso nos orçamentos dessas famílias é proporcionalmente maior —
frisa a economista Daniela Sandi, do Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O IPCA analisa os custos de vida para famílias com renda
mensal de um a 40 salários mínimos. O IBGE ainda calcula o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor (INPC), outro indicador de inflação.
O INPC, por sua vez, contempla uma cesta menor de produtos.
Sua função é medir os custos para famílias com renda mensal de um a cinco
salários mínimos. De janeiro a novembro, o índice teve alta de 3,22%. Ou seja,
o avanço foi maior do que o do IPCA (2,34%), em mais um sinal de que o
orçamento de quem ganha menos tem sido mais impactado.
Segundo estimativa do Dieese, a cesta básica custou R$
617,03, em novembro, em Porto Alegre. A marca corresponde a 63,83% da
renda de quem recebe um salário mínimo líquido, destaca Daniela.
A receita da alta
Por trás da disparada dos alimentos, há uma combinação de
fatores. O dólar
acima de R$ 5 é um dos ingredientes. Com a moeda norte-americana
em patamar elevado, as exportações de commodities, incluindo soja e arroz,
ficam mais atrativas. Os embarques acabam diminuindo os estoques dentro do
país, o que tende a elevar os valores nas gôndolas dos supermercados.
Ao mesmo tempo, a pandemia provocou uma mudança nos padrões
de consumo, acrescenta o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de
Negócios da PUCRS. Em razão do distanciamento social, houve maior procura por
alimentos para receitas dentro de casa. A demanda aquecida, também estimulada
pelo auxílio
emergencial, pressiona os preços para cima.
— A inflação em alta é resultado de uma combinação de
fatores. Não pode ser explicada de uma forma só — diz o professor.
Conforme Ely, pelo menos no "curtíssimo prazo", não
há sinais de baixa consistente nos valores dos alimentos:
—Não consigo enxergar, nos próximos três meses, uma retração
maior do dólar, por exemplo. Não sabemos ainda se haverá auxílio emergencial em
2021. Parece que não, o que pode segurar um pouco os preços.
Fonte GAUCHA ZH 09/12/2020
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