OS "SEM-VACINA" Homem e de meia-idade: o perfil dos hospitalizados por covid-19 que não se vacinaram no RS
Notificações
indicam que boa parte dos pacientes sem imunização, por sua faixa etária,
poderia ter recebido ao menos a primeira dose
Registros oficiais indicam
que, no mês de julho, pelo menos 1.571 pessoas que não tinham tomado nenhuma
dose de vacina precisaram de internação hospitalar em razão do coronavírus no Rio
Grande do Sul.
Uma análise feita
por GZH dos dados de hospitalizações em leitos clínicos e
de terapia intensiva (UTI) mostra que 60% desses doentes eram homens,
e a maior parte deles poderia ter recebido, no mínimo, uma aplicação
inicial. O equivalente a 58% dos pacientes sem vacina de ambos os sexos
tinha 40 anos ou mais – faixa etária que já estava sendo contemplada na
campanha de combate à pandemia nesse período.
Reportagem
feita por GZH com base nas planilhas do Sistema de Informação da
Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) e publicada na sexta-feira
(20) revelou que, entre todos os 4,8
mil internados com coronavírus no mês passado, 18%
tinham esquema vacinal completo e pelo menos um terço
não havia tomado qualquer aplicação.
Análises
mais conclusivas ficam prejudicadas porque, por falta ou falha de
preenchimento, 28% das notificações não apontavam qual era o status
vacinal do doente. Ainda assim, uma
avaliação preliminar dos microdados disponíveis sugere que
a rejeição de uma pequena parcela da população à vacina pode estar por trás de
boa parte dos casos graves de covid-19 no Estado.
Entre os
doentes que ingressaram no mês passado em algum hospital gaúcho e seguramente
não tomaram vacina, a idade média era de 45 anos. Nesse mesmo período, o
cronograma oficial do Estado previu a vacinação de toda a população entre os 40
e os 49 anos, e grandes cidades como Porto Alegre já haviam avançado a campanha
de imunização para a faixa dos 30 anos de idade.
Ou seja, já
era possível terem tomado ao menos uma injeção. Além disso, 17% dos
sem-vacina eram idosos e já poderiam até ter completado as aplicações
necessárias para garantir proteção máxima e prevenir complicações causadas
pelo vírus.
– Sabemos
que há movimentos antivacina e, inclusive, pessoas que,
por vezes até seguindo exemplos de pessoas do governo federal,
negam a pandemia. É um fator de preocupação, principalmente diante da nova
variante Delta, mais transmissível – observa o epidemiologista e
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Paulo Petry.
Outro ponto que
chama a atenção é o fato de a grande maioria dos hospitalizados sem imunização
serem homens (veja detalhamento no gráfico abaixo).
– De
forma geral, mulheres têm maior adesão a tratamentos de saúde do que homens. No
caso da pandemia, pode haver um componente a mais, de acharem que é “mimimi” se
vacinar, algo assim. Mas é um erro grande porque se colocam em risco e
também a todos nós, já que a vacinação tem um caráter de proteção coletiva –
complementa Paulo Petry.
As
estatísticas confirmam a ameaça que a falta de imunização representa. Pelos
registros do Sivep-Gripe, pelo menos 261 pessoas sem vacina morreram
por coronavírus no mês de julho em estabelecimentos hospitalares
do Estado – o que corresponde a quase 17% de todos os internados
naquele mês sem registro de ter tomado qualquer dose.
Outro
indicador que chama a atenção é o elevado percentual de pessoas sem imunização
que tinham algum fator de risco para o agravamento da covid: quase a metade
(47%) apresentava alguma complicação de saúde associada, como problemas
cardíacos, por exemplo, e mesmo assim não havia tomado nenhuma injeção até
precisar de atendimento médico.
Com o avanço
da variante
Delta, os especialistas reforçam a importância de completar o esquema
vacinal e manter cuidados preventivos como distanciamento social e uso de
máscara para conter a transmissão do vírus e reduzir o perigo representado pela
pandemia.
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